Em Joinville, no sul do Brasil, agentes de saúde combatem doenças transmitidas por mosquitos com uma abordagem inovadora. A segunda fase do projeto Wolbachia agora protege quase 75% dos moradores, após os resultados da primeira fase que mostraram uma redução de 90% nos casos de dengue. Desde as liberações matinais até as operações de biofábrica, o programa traz esperança às comunidades que sofreram surtos devastadores.
Mesmo para os padrões de Joinville, a chuva frenética é bíblica hoje. Muitas vezes apelidada de "rainville" pelos habitantes locais, por ser uma das cidades mais úmidas do Brasil, a verdejante Joinville é cercada por belas montanhas e vales verdejantes.
Apesar do que os elementos podem nos reservar, nada abalou o ânimo em uma biofábrica de uma pequena cidade repleta de energia nas primeiras horas da manhã. Abastecidos com café preto perigosamente forte e armados com caixas de frascos de mosquitos, um punhado de agentes de saúde enche seus veículos prontos para as liberações, à medida que o nascer do sol se aproxima. Animada, a equipe parte para suas duas rodadas de Wolbachia (conhecida como Wolbito no Brasil) em diferentes partes de Joinville.
Wolbachia expande para Balneário Camboriú e Blumenau
Poucos dias antes, o movimentado Auditório Reginaldo de Souza Kock estava repleto de delegados, representantes do governo, cientistas, mídia e câmeras de filmagem, para o anúncio da segunda fase de liberações de mosquitos na cidade, além de outras liberações nas vizinhas Balneário Camboriú e Blumenau.
"A chegada de nossa Wolbachia é um reforço fundamental na proteção da nossa população", enfatiza Aline Leal, secretária de Saúde de Balneário Camboriú. "Trata-se de uma estratégia segura para pessoas, animais e meio ambiente, que complementa as medidas de prevenção já adotadas. Estamos confiantes nos resultados".
Priscila Ferraz, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, acrescenta: "A implementação contínua de nossa Wolbachia em Santa Catarina representa um benefício para toda a população dos três municípios, que vêm registrando alta transmissão de dengue nos últimos anos."
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Quatro dias por semana, Lúcia acorda cedo e se prepara para os lançamentos na cidade. Ela começou como agente de endemias em 2023, logo após sofrer de dengue, e queria saber mais sobre os esforços do país para reduzir as doenças transmitidas por mosquitos.
"Tive dengue apenas algumas semanas antes de começar a trabalhar com vigilância ambiental", diz ela. "Foi muito difícil. Uma semana com muita dor, sem apetite e com febre alta. Então, a partir daquele momento, quando fiquei sabendo sobre a Wolbachia decidi que também lutaria contra essa doença."
Lúcia diz que muitas pessoas se interessam e vêm conversar com ela durante os lançamentos para fazer perguntas e entender o que ela está fazendo, mas admite que a recepção é amplamente positiva.
"Enquanto estou soltando os mosquitos, sinto-me feliz, porque para mim é como se eu estivesse salvando vidas - cada mosquito que sai tem o objetivo de melhorar o meio ambiente, acabar com a dengue e outras doenças como Zika e chikungunya."
Após a primeira rodada de lançamentos, é necessária uma rápida parada tática para tomar mais café com combustível de foguete e reabastecer os carros na biofábrica, antes que os segundos lançamentos cheguem ao fim por volta das 9h30.
Trazendo esperança após a epidemia de dengue
Tamila Kleine gerenciou a primeira fase de liberações em Joinville e agora é coordenadora regional de implementação da Wolbito do Brasil. Ela se lembra de como a comunidade sofria com doenças transmitidas por mosquitos quando o projeto foi introduzido pela primeira vez na cidade.
"Quando nossa Wolbachia chegou ao município de Joinville, a região estava passando por um grande impacto relacionado à dengue", enfatiza Tamila. "Vínhamos de uma epidemia de dengue, com muitos casos e um alto número de mortes. Então, a chegada do método também trouxe alguma esperança após a implementação da primeira fase.
"Em Joinville, nossa Wolbachia sempre teve uma aceitação muito boa. A primeira fase teve uma recepção muito positiva da população, que já viu alguns resultados da primeira fase e está aguardando ansiosamente os lançamentos. Em comparação com o período pré e pósWolbachia tivemos uma enorme redução nos casos, cerca de 90% de redução nos casos de dengue. Entretanto, isso ainda é muito recente. Não podemos provar que isso se deve exclusivamente à Wolbachiamas ela certamente faz parte desse resultado positivo, juntamente com todos os outros serviços e atividades realizados pela Vigilância Ambiental da cidade."
Antes do início do projeto em Joinville, Tamila já estava trabalhando em pesquisas sobre a dengue no município e também se concentrando de forma mais ampla em doenças zoonóticas. No entanto, a dengue logo se tornou um pouco mais pessoal.
"O perigo dessa doença e o medo de que alguém da minha família possa contraí-la, alguém do meu grupo de amigos, da minha comunidade. Eu sou daqui. Acho que isso é uma motivação ainda maior para continuar. Estou muito feliz com tudo o que conseguimos realizar no ano passado aqui em Joinville. Trabalhando com nossa Wolbachia e ter essa oportunidade. Foi algo muito gratificante para mim".
A equipe que protege Joinville das doenças transmitidas por mosquitos
Alvino Rodrigues concorda com o sentimento de Tamila. Como coordenador regional em Joinville, ele supervisiona uma pequena equipe, garantindo que a produção e as operações de campo ocorram conforme o esperado. Com formação em Química, Alvino trabalhou em muitas empresas multinacionais coordenando operações de laboratório e análise de dados. Ele enfatiza a importância do envolvimento da comunidade na fase de preparação, juntamente com o planejamento rígido das rotas de liberação, o número de liberadores/carros necessários e as condições climáticas potencialmente adversas.
"As doenças que enfrentamos com o Aedes aegypti aqui no Brasil são grandes", diz ele. "Então, todo mundo conhece ou já teve um parente que sofreu com dengue, chikungunya ou Zika. A oportunidade de trabalhar e resolver esse problema, minimizar a incidência (da doença) e melhorar a saúde da população como um todo é extremamente motivadora para mim. Isso realmente me impactou de uma forma positiva, e é por isso que tenho orgulho de trabalhar dessa forma."
Alvino acredita que os impactos do programa afetam muitas partes da sociedade, desde os meios de subsistência das pessoas até o sistema de saúde.
"Quando minimizamos o número de mortes ou de pessoas que adoecem, reduzimos não apenas o impacto emocional sobre as famílias, mas também ajudamos a aliviar a pressão sobre o sistema de saúde, de modo que podemos direcionar esforços para outras doenças ou problemas. Quanto menos pessoas estiverem doentes, mais pessoas estarão trabalhando e comprando, o que também causa um grande impacto positivo na economia.
"Depois que liberamos o Wolbitos nas comunidades, o número de mortes e de pessoas que precisam de serviços de saúde diminuiu drasticamente. É um futuro brilhante, com certeza, e mostra o verdadeiro impacto positivo da ciência."
Cinco milhões de brasileiros agora protegidos pela Wolbachia
Wolbito do Brasil, a maior biofábrica de criação de Aedes aegypti do mundo Aedes aegypti com Wolbachiatambém está em pleno funcionamento em Curitiba, a apenas duas horas de carro de Joinville. O empreendimento conjunto entre o World Mosquito Program WMP), a Fiocruz e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) produzirá mais de 100 milhões de ovos de mosquitos por semana e ajudará a expandir drasticamente o acesso em todo o Brasil à Wolbachia Wolbachia em todo o Brasil.
Tamila está muito otimista com relação às ambições futuras do projeto. "Com a chegada do Wolbito do Brasil e a possibilidade de levar o Wolbito para toda a população brasileira, só vejo salvação, tranquilidade e que podemos realmente atender a todo o país", acrescenta.

