Brasil expande o método Wolbachia para combater a dengue nas cidades do sul Pular para o conteúdo principal

Escrito por: Alex Jackson | Publicado em: 13

Em Joinville, no sul do Brasil, agentes de saúde combatem doenças transmitidas por mosquitos com uma abordagem inovadora. A segunda fase do projeto Wolbachia agora protege quase 75% dos moradores, após os resultados da primeira fase que mostraram uma redução de 90% nos casos de dengue. Desde as liberações matinais até as operações de biofábrica, o programa traz esperança às comunidades que sofreram surtos devastadores.

Mesmo para os padrões de Joinville, a chuva frenética é bíblica hoje. Muitas vezes apelidada de "rainville" pelos habitantes locais, por ser uma das cidades mais úmidas do Brasil, a verdejante Joinville é cercada por belas montanhas e vales verdejantes.

Apesar do que os elementos podem nos reservar, nada abalou o ânimo em uma biofábrica de uma pequena cidade repleta de energia nas primeiras horas da manhã. Abastecidos com café preto perigosamente forte e armados com caixas de frascos de mosquitos, um punhado de agentes de saúde enche seus veículos prontos para as liberações, à medida que o nascer do sol se aproxima. Animada, a equipe parte para suas duas rodadas de Wolbachia (conhecida como Wolbito no Brasil) em diferentes partes de Joinville.

Wolbachia expande para Balneário Camboriú e Blumenau

Poucos dias antes, o movimentado Auditório Reginaldo de Souza Kock estava repleto de delegados, representantes do governo, cientistas, mídia e câmeras de filmagem, para o anúncio da segunda fase de liberações de mosquitos na cidade, além de outras liberações nas vizinhas Balneário Camboriú e Blumenau.

"A chegada de nossa Wolbachia é um reforço fundamental na proteção da nossa população", enfatiza Aline Leal, secretária de Saúde de Balneário Camboriú. "Trata-se de uma estratégia segura para pessoas, animais e meio ambiente, que complementa as medidas de prevenção já adotadas. Estamos confiantes nos resultados".

Priscila Ferraz, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, acrescenta: "A implementação contínua de nossa Wolbachia em Santa Catarina representa um benefício para toda a população dos três municípios, que vêm registrando alta transmissão de dengue nos últimos anos."

Agente de Controle de Endemias libera mosquitos de um carro para o world mosquito program
 

Redução de 90% da dengue após liberações em Joinville

A primeira fase de lançamentos em Joinville, no ano passado, abrangeu 17 bairros, protegendo cerca de 360.000 habitantes, e os primeiros resultados mostraram-se muito promissores. Essa segunda fase, liderada pela Wolbito do Brasil, atingirá quase 75% da população da cidade, abrangendo mais 15 bairros e 150.000 pessoas.

Lúcia Jordan, a única libertadora e agente de controle de endemias da equipe, e Giulia Cattini no comando, são o time dos sonhos. Enquanto circulam por uma área ao norte da cidade, os espectadores observam com curiosidade e interesse enquanto Lúcia sacode o contêiner pela janela para liberar Wolbachia no ambiente local. Em Joinville, a dengue não era uma grande preocupação para os moradores até os últimos anos, pois as mudanças climáticas ajudaram a trazer doenças transmitidas por mosquitos para o sul do país.

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Quatro dias por semana, Lúcia acorda cedo e se prepara para os lançamentos na cidade. Ela começou como agente de endemias em 2023, logo após sofrer de dengue, e queria saber mais sobre os esforços do país para reduzir as doenças transmitidas por mosquitos.

"Tive dengue apenas algumas semanas antes de começar a trabalhar com vigilância ambiental", diz ela. "Foi muito difícil. Uma semana com muita dor, sem apetite e com febre alta. Então, a partir daquele momento, quando fiquei sabendo sobre a Wolbachia decidi que também lutaria contra essa doença."

Lúcia diz que muitas pessoas se interessam e vêm conversar com ela durante os lançamentos para fazer perguntas e entender o que ela está fazendo, mas admite que a recepção é amplamente positiva.

"Enquanto estou soltando os mosquitos, sinto-me feliz, porque para mim é como se eu estivesse salvando vidas - cada mosquito que sai tem o objetivo de melhorar o meio ambiente, acabar com a dengue e outras doenças como Zika e chikungunya."

Após a primeira rodada de lançamentos, é necessária uma rápida parada tática para tomar mais café com combustível de foguete e reabastecer os carros na biofábrica, antes que os segundos lançamentos cheguem ao fim por volta das 9h30.

Trazendo esperança após a epidemia de dengue

Foto de Tamila - funcionária da Wolbito do Brasil

Tamila Kleine gerenciou a primeira fase de liberações em Joinville e agora é coordenadora regional de implementação da Wolbito do Brasil. Ela se lembra de como a comunidade sofria com doenças transmitidas por mosquitos quando o projeto foi introduzido pela primeira vez na cidade.

"Quando nossa Wolbachia chegou ao município de Joinville, a região estava passando por um grande impacto relacionado à dengue", enfatiza Tamila. "Vínhamos de uma epidemia de dengue, com muitos casos e um alto número de mortes. Então, a chegada do método também trouxe alguma esperança após a implementação da primeira fase.

"Em Joinville, nossa Wolbachia sempre teve uma aceitação muito boa. A primeira fase teve uma recepção muito positiva da população, que já viu alguns resultados da primeira fase e está aguardando ansiosamente os lançamentos. Em comparação com o período pré e pósWolbachia tivemos uma enorme redução nos casos, cerca de 90% de redução nos casos de dengue. Entretanto, isso ainda é muito recente. Não podemos provar que isso se deve exclusivamente à Wolbachiamas ela certamente faz parte desse resultado positivo, juntamente com todos os outros serviços e atividades realizados pela Vigilância Ambiental da cidade."

Antes do início do projeto em Joinville, Tamila já estava trabalhando em pesquisas sobre a dengue no município e também se concentrando de forma mais ampla em doenças zoonóticas. No entanto, a dengue logo se tornou um pouco mais pessoal.

"O perigo dessa doença e o medo de que alguém da minha família possa contraí-la, alguém do meu grupo de amigos, da minha comunidade. Eu sou daqui. Acho que isso é uma motivação ainda maior para continuar. Estou muito feliz com tudo o que conseguimos realizar no ano passado aqui em Joinville. Trabalhando com nossa Wolbachia e ter essa oportunidade. Foi algo muito gratificante para mim".

A equipe que protege Joinville das doenças transmitidas por mosquitos

Alvino Rodrigues concorda com o sentimento de Tamila. Como coordenador regional em Joinville, ele supervisiona uma pequena equipe, garantindo que a produção e as operações de campo ocorram conforme o esperado. Com formação em Química, Alvino trabalhou em muitas empresas multinacionais coordenando operações de laboratório e análise de dados. Ele enfatiza a importância do envolvimento da comunidade na fase de preparação, juntamente com o planejamento rígido das rotas de liberação, o número de liberadores/carros necessários e as condições climáticas potencialmente adversas.

"As doenças que enfrentamos com o Aedes aegypti aqui no Brasil são grandes", diz ele. "Então, todo mundo conhece ou já teve um parente que sofreu com dengue, chikungunya ou Zika. A oportunidade de trabalhar e resolver esse problema, minimizar a incidência (da doença) e melhorar a saúde da população como um todo é extremamente motivadora para mim. Isso realmente me impactou de uma forma positiva, e é por isso que tenho orgulho de trabalhar dessa forma."

Alvino acredita que os impactos do programa afetam muitas partes da sociedade, desde os meios de subsistência das pessoas até o sistema de saúde.

 

Foto de Alvino Rodrigues trabalhando com o World Mosquito Program

 

"Quando minimizamos o número de mortes ou de pessoas que adoecem, reduzimos não apenas o impacto emocional sobre as famílias, mas também ajudamos a aliviar a pressão sobre o sistema de saúde, de modo que podemos direcionar esforços para outras doenças ou problemas. Quanto menos pessoas estiverem doentes, mais pessoas estarão trabalhando e comprando, o que também causa um grande impacto positivo na economia.

"Depois que liberamos o Wolbitos nas comunidades, o número de mortes e de pessoas que precisam de serviços de saúde diminuiu drasticamente. É um futuro brilhante, com certeza, e mostra o verdadeiro impacto positivo da ciência."

Cinco milhões de brasileiros agora protegidos pela Wolbachia

Voluntário da Wolbtio do Brasil
 

Joinville se junta a uma série de outras cidades no Brasil que implementaram os WMPWolbachia da WMP. Os primeiros lançamentos de Wolbachia começaram em setembro de 2014 no Rio de Janeiro. Três anos depois, foram realizadas implantações em larga escala no país. O WMPWolbachia da WMP protege atualmente mais de cinco milhões de pessoas em oito cidades, incluindo Niterói, Rio de Janeiro, Londrina, Foz do Iguaçu, Campo Grande, Joinville, Belo Horizonte e Petrolina. Atualmente, ele também está sendo implementado em Presidente Prudente, Uberlândia e Natal.

Outros municípios que recentemente iniciaram lançamentos com o Wolbito do Brasil incluem Valparaíso de Goiás e Luziânia, Goiás; e a capital do Brasil, Brasília. Cada um deles é escolhido por meio de um cuidadoso processo de seleção do Ministério da Saúde, e a implementação conta com o apoio estratégico da Fiocruz.

Wolbito do Brasil, a maior biofábrica de criação de Aedes aegypti do mundo Aedes aegypti com Wolbachiatambém está em pleno funcionamento em Curitiba, a apenas duas horas de carro de Joinville. O empreendimento conjunto entre o World Mosquito Program WMP), a Fiocruz e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) produzirá mais de 100 milhões de ovos de mosquitos por semana e ajudará a expandir drasticamente o acesso em todo o Brasil à Wolbachia Wolbachia em todo o Brasil.

Tamila está muito otimista com relação às ambições futuras do projeto. "Com a chegada do Wolbito do Brasil e a possibilidade de levar o Wolbito para toda a população brasileira, só vejo salvação, tranquilidade e que podemos realmente atender a todo o país", acrescenta.

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